Que o Amor Não Me Engana

A Melancolia do Amor em 'Que Amor Não Me Engana'

A música 'Que Amor Não Me Engana', do artista português Zeca Afonso, é uma obra que transita entre a melancolia e a reflexão sobre a natureza do amor. A letra sugere uma desilusão amorosa, onde o amor que antes era intenso agora deixa apenas a 'amargura' de uma 'mancha negra' e uma 'pedra fria'. Essa imagem evoca a frieza e a solidão que podem acompanhar o fim de um relacionamento, ou o desencanto com o amor que não se revelou tão puro ou duradouro quanto se esperava.

A repetição do verso 'E as vozes embarcam / Num silêncio aflito' pode ser interpretada como a dificuldade de expressar a dor e a separação, onde as vozes que deveriam comunicar se perdem em um silêncio carregado de sofrimento. A distância entre os amantes é sentida ainda mais agudamente quanto mais eles se separam, evidenciada pelo 'grito' que se torna mais audível. A referência à 'noite marinheira' e ao movimento 'devagarinho' para a beira sugere um desejo de aproximação e um chamado para o amor que se afasta, como se o eu lírico ainda tivesse esperança de reacender a chama perdida.

Por fim, a menção às 'flores vermelhas / Pela primavera' e à 'irmã cotovia' que aguarda o 'nascer do dia' trazem um contraste entre a esperança de renovação e a realidade da desilusão. A primavera e o amanhecer são símbolos de começos novos e de renascimento, mas a incerteza se a cotovia realmente espera pelo novo dia reflete a dúvida do eu lírico sobre a possibilidade de um novo amor ou de uma reconciliação. Zeca Afonso, conhecido por suas canções de intervenção e protesto, aqui se debruça sobre o tema universal do amor, explorando suas facetas mais sombrias e introspectivas.